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Mulheres, pretas e lendárias!

Elas fizeram, e fazem, a diferença aqui no Amazonas

Segundo dados no IBGE, 54% da população brasileira é negra, entretanto, apenas 9,1% se autodeclaram pretos. Felizmente esse número vem aumentando, de forma tímida, afinal somos uma maioria que ainda carrega as dores do preconceito, reflexo de um Brasil com raízes escravocratas.

Como um homem preto, nortista e de origem pobre, entendo que no contexto social em que vivemos hoje, minha trajetória é um ponto fora da curva. Meu sonho é olhar para os lados e ver mais pessoas como eu também cabeceando grandes empresas e ocupando cargos de liderança, mas mais importante ainda, meu sonho é ver mais gente preta fazendo história!

Não somos os personagens de destaque nos livros, mas estamos lutando todos os dias para que as conquistas daqueles que vieram antes de nós sejam reconhecidas de aplaudidas. Temos muita história pra contar e por isso hoje quero te apresentar três mulheres pretas que fizeram, e fazem, a diferença aqui no Amazonas.

Quem é da Zona Sul com certeza conhece Maria do Carmo Bento de Oliveira, empreendedora à frente do Bar da Carmosa, um dos mais antigos de Manaus, tombado em 2015 como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do Estado do Amazonas. O bar fica na rua Leopoldo Peres, a primeira rua a ser batizada no Educandos, em 1928. Fundado pelo avô, que era comerciante de estivas, o local existe há mais de 70 anos e mantém sua estrutura original em madeira. Maria do Carmo assumiu os negócios em 1982, quando batizou o bar com seu apelido. Carmosa não teve filhos, e sempre dedicou a sua vida a cuidar de outras pessoas. A conheço pessoalmente e, além de gente boníssima, é um exemplo de mulher de garra, dedicada e que ama seu semelhante.

Outra mulher que você deveria conhecer é a Tia Lourdinha, da Praça 14. Viveu desde 1917 no Quilombo de São Benedito, onde as lideranças eram majoritariamente femininas e as famílias matriarcais. Ela tinha destaque por lutar para que a sua cultura estivesse sempre viva e que fosse perpetuada para as próximas gerações. Participou da fundação da Escola de Samba Vitória e da Igreja Nossa Senhora de Fátima. Esteve envolvida também no "nascimento" do Boi Caprichoso de Manaus, de quem ela foi madrinha aos 15 anos. Por anos a Tia Lourdinha vendeu seus quitutes em uma banca na frente da quadra da Vitória Régia, sendo uma das quituteiras mais famosas do bairro. Faleceu em 2012 e deixou seu nome marcado na história da nossa cidade.

O próximo nome que quero te apresentar é Josephina de Mello, a primeira mulher negra a ingressar em uma Escola de Enfermagem no Brasil. Era manauara, filha de um brasileiro com uma barbadiana e estudou na Escola de Enfermagem de São Paulo, na década de 40. Josephina foi destaque por ser uma intelectual que quebrou paradigmas, ocupando cargos de liderança e tornando-se doutora em enfermagem pela UFRJ na década de 70. Publicou artigos em revistas científicas, nacionais e estrangeiras, foi membro efetivo e honorífico de diversas instituições. Além de enfermeira, ela também era formada em administração pela UFAM. Recebeu em 1988 a homenagem da Comissão Executiva Estadual criada pelo Governo Amazonino Mendes, sendo eleita a receber a Homenagem Vulto Estadual do Amazonas, pelos serviços prestados, bem como representar a raça negra no ano do Centenário da Abolição. Faleceu em Manaus, em 1995.

Conheça nossa história e nossas raízes. Eu também estou nesse processo e quanto mais aprendo, mais me encanto com a nossa riqueza, luta e resiliência. Compartilhe essa coluna com alguém que você acha que ia gostar de conhecer essas mulheres e, se tiver mais histórias, me conta lá no meu instagram (@rozenha), vou adorar ler!

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