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'Vetar licenciamento para a exploração de Petróleo na Foz do Amazonas é investir no atraso', diz Jaime Benchimol

Empresário Jaime Benchimol adverte que “não há capital que aguente esperar 10 anos por um processo de licenciamento”

A região é um dos principais focos de campanha exploratória no Plano Estratégico 2023-2027

Certa vez, um ministro do petróleo da Arábia Saudita fez um alerta curioso. “A idade da pedra não terminou por falta de pedra. Da mesma forma  que a era do petróleo não vai terminar por falta de petróleo. Ela vai terminar porque será substituída tecnologicamente por outras alternativas mais eficientes”.

O empresário e economista Jaime Samuel Benchimol, presidente de Sociedade Fogás Ltda., resgatou esse comentário para manifestar a sua decepção com a decisão do  Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis) que na 4ª-feira passada (17) vetou  o pedido de licenciamento para a Petrobras explorar o Petróleo na costa do Amapá, na região da Margem Equatorial Brasileira área que vem sendo chamada de “novo pré-sal”.

— Então, se nós não aproveitarmos esses recursos em mais 30 anos,  eles provavelmente perderão quase todo o seu valor daí pra frente, pois serão substituídos por outras fontes de energia –, vaticina Benchimol.

A região é um dos principais focos de campanha exploratória no Plano Estratégico 2023-2027. Abrange 5 bacias sedimentares, que se estendem da costa do Amapá ao Rio Grande do Norte.

A alegação para o veto é de que o pedido da estatal apresenta riscos ao meio ambiente, uma vez que existem “inconsistências preocupantes para uma operação segura em área de alta vulnerabilidade socioambiental”. O Ibama alega também que a região da bacia da foz do rio Amazonas é de “extrema sensibilidade socioambiental”.

Benchimol é favorável, sim, que se tenha cuidado com a proteção do meio ambiente, mas observa que, ao que tudo indica, estamos atribuindo um valor desbalanceado, proporcionalmente muito maior ao meio ambiente do  que deveríamos atribuir e, proporcionalmente, muito menor às necessidades dos homens de hoje.

— As necessidades de combater, vamos dizer assim, o atraso, de avançarmos com o progresso, de avançarmos com o desenvolvimento, de avançarmos com novas fontes de renda e de arrecadação para o  Brasil de um modo geral e para a Amazônia em particular. Assim, estamos atribuindo um valor quase que infinito ao meio ambiente em detrimento do homem de hoje –, alerta o empresário em entrevista exclusiva ao BMA.

Empresário e economista Jaime Samuel Benchimol

Confira a entrevista

Blog do Mário Adolfo – O  Ibama negou na quarta-feira (17) um pedido feito pela Petrobras para perfurar a bacia da foz do rio Amazonas com objetivo de explorar petróleo na região. Que avaliação o senhor faz sobre esta decisão?

Jaime Benchimol, Presidente da Sociedade Fogás Ltda. – Essa questão da exploração de petróleo na Margem Equatorial, que vai da Costa do  Amapá até o Rio Grande do Norte é mais um exemplo do que as autoridades ambientais costumam dar à exploração mineral no Brasil como um  todo. Ultimamente – especialmente, e quando se fala em Amazônia –  a tendência tem sido de criar  barreiras enormes quando se fala em exploração  mineral na nossa região. Nós vimos isso recentemente como o potássio, por exemplo, e  estamos  vendo agora com a exploração do petróleo. Tudo indica que estamos atribuindo um valor desbalanceado. Proporcionalmente muito maior ao meio ambiente do  que deveríamos atribuir e, proporcionalmente, muito menor às necessidades dos homens de hoje. A necessidade de combater, vamos dizer assim, o atraso de  avançarmos com o progresso, de avançarmos com o desenvolvimento, de avançarmos com novas fontes de renda e de arrecadação para o Brasil e de um modo geral para a Amazônia em particular.

Blog do Mário Adolfo – Estamos falando de um  cabo de guerra entre o desenvolvimento e a questão ambiental?

Jaime Benchimol –   Acredito que estamos atribuindo um valor quase que infinito ao meio ambiente em detrimento do homem de hoje. Talvez também sobre a alegação que estamos protegendo o homem do futuro, nossos filhos, netos e bisnetos, mais ainda assim em detrimento ao homem de hoje.  Isso não me parece correto. E mais ainda, não me parece que é a postura adotada pelos outros países do mundo. Você veja, por exemplo, a Noruega, que é um dos países mais ricos e que tem um dos maiores fundos, criado com recursos do petróleo que guarda para as futuras gerações. Isto é, usa apenas uma pequena parte e guarda o restante para as futuras gerações. Mas continuam produzindo cerca de 2 milhões de barris de petróleo por dia. Então a preocupação da Noruega, por exemplo, considerado um modelo nessa área, é bem diferente da nossa. Eles não estão deixando de produzir petróleo – poderiam se quisessem, não precisam mais desse recursos. Mas não fazem, continuam produzindo dois milhões de barris de petróleo por dia. Uma das maiores produções de petróleo do mundo por habitante é da Noruega. E nós no Brasil, sob a alegação de que esse seria um ecossistema frágil, como um todo ecossistema do mundo efetivamente é frágil, e aqui na Amazônia temos um extensão continental praticamente em toda a região e não conseguimos às vezes fazer explorações pontuais.

BMA – Segundo o Ibama, a bacia da foz do Amazonas é considerada uma região de extrema “sensibilidade socioambiental”.  O estudo elaborado por técnicos do órgão cita unidades de conservação, terras indígenas, mangues, etc. O senhor não acha que esses fatores também não devem ser levados em consideração?

Jaime Benchimol –  Me parece que essa abordagem que o Ibama está dando com uma sobrevalorização ao meio ambiente –  não que não se deva ter cuidado,  obviamente temos que ter cuidado sim, com o meio ambiente –, não pode ser um fator para impedir a exploração do petróleo. Podem ter acidentes? Sim, podem acontecer acidentes, como já aconteceram inúmeros acidentes em exploração de petróleo, inclusive em áreas sensíveis como o Alasca e que depois foram contornados. Foram desastres ambientais? Sim, admitimos, mas foram contornados  posteriormente. A área foi limpa e o meio ambiente se recuperou. Há de se considerar também o  poder de regeneração do meio ambiente. Parece assim que se houver qualquer  tipo de vazamento de  petróleo o dano ambiental será eterno. E a gente sabe que não é assim que a natureza funciona.

“Guiana é exemplo de um país que  está avançando na exploração de petróleo. A expectativa é que a se torne um país efetivamente rico, com  renda per capita acima de US$ 100 mil dólares por ano por habitante. Parecido com que existe hoje no Catar, Emirados Árabes”

BMA – O presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, avaliou que com a decisão do Ibama de impedir a prospecção de petróleo na Margem Equatorial, o Brasil perde uma 'oportunidade de ouro'. O senhor também pensa assim?

Jaime Benchimol – Estamos, sim, perdendo uma grande oportunidade. Essa negativa que foi dada à exploração do petróleo é revestida, ainda, de um outro contexto. É que o petróleo  como um todo está chegando ao final de seu ciclo. Eu acho que nós temos aí mais uns 30, 40 anos de utilização do petróleo –  talvez até menos –, e já estamos começando a ver um declínio no consumo, em razão da eletrificação dos automóveis, em razão da utilização mais intensa de outras fontes de energia, solar, eólicas,  geotérmicas, etc., etc.  Então, se nós  não aproveitarmos esses recursos em mais 30 anos, eles provavelmente perderão quase todo o seu valor daqui pra frente.

Em certa ocasião, um ministro do petróleo da Arábia Saudita fez um comentário curioso, Ele disse, “olha, a idade da pedra não terminou  por falta de pedra” (risos).  Da mesma forma, a era do petróleo não vai terminar por falta de petróleo. Ela vai terminar porque será substituída tecnologicamente por outras  alternativas mais eficientes.

Local exato da Petróleo da Foz do Amazonas 

BMA De acordo com a sua análise, o que está acontecendo agora com o petróleo (barrar a exploração) é o mesmo que vem acontecendo com o Potássio?

Jaime Benchimol – É verdade. É uma pena  que nós estejamos aqui há uma década discutindo o licenciamento de potássio que é um minério utilizado para a produção de fertilizantes no Brasil e no mundo inteiro. Quando o Brasil é de longe o maior  importador mundial de potássio. Trazemos boa parte do potássio do Canadá, da Rússia, de outros países da Europa e da Ásia. E temos aqui a terceira  maior reserva de Potássio aqui na região de Autazes, Nova Olinda, etc. Portanto, claramente, na minha opinião, eu  sou favorável à exploração do petróleo e  outros minérios.

BMA – Nos últimos 10 anos, pelo menos três empresas desistiram de explorar petróleo e gás na Foz do Amazonas por causa das dificuldades para conseguir licenciamento ambiental. Enquanto isso, a vizinha Guiana já está operando nessa faixa com bons resultados. O que falta para o Brasil seguir este exemplo?

Jaime Benchimol – A verdade é que não conseguimos avançar. É uma coisa, é outra... É uma dificuldade que surge. E o entendimento de muitas instituições é de fato que devemos cobrar projetos e cobrar cuidados que são quase impossíveis de se cumprir e portanto desestimulam qualquer interesse de investidores. Não há capital que aguente esperar 10 anos por um processo de licenciamento. Lembrando que o Brasil não é o único país no mudo contemplado com riquezas minerais. Esses minerais, inclusive, o petróleo, tem uma relativa abundância em muitos países do mundo. Você citou a Guiana. A Guiana é um belo exemplo de um país que está avançando  rapidamente na exploração de petróleo e que deve, em poucos anos -   menos de dez anos -, a expectativa é que a Guiana  se torne um país efetivamente rico, com renda per capita acima de US$ 100 mil dólares por ano por habitante. Parecido com o que existe hoje no Catar, Emirados Árabes e outros  países de baixa população, como a Guiana que tem cerca de 1 milhão de habitantes. Então a Guiana é um bom exemplo de um país que está na direção correta da exploração e do aproveitamento desse recurso em benefício de sua população. Portanto, eu considero lamentável esse posicionamento e espero sinceramente que ele seja revisto.

++ CONFIRA TAMBÉM A ENTREVISTA CONCEDIDA EM 2018: “Ou mudamos a postura ou seremos condenados a fracassar entre cinco e dez anos”++

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